sábado, 23 de abril de 2011

Lacuna

Raros lampejos os de amor que me acometem.
São quase orgásticos!
Me roubam o estado primitivo indiferente
Arquitetam-me pra vida,
Insossa e apetitosa que ela é.
E delatam-me impreenchida.

A chita verde que me indumenta
Torna-me bela e coitada.
Me veste a nudez desesperadora e mortífera de ser!
Refém, servil produto de mim mesma!

Macios, meus gritos se dissipam um dia
Mas esfregam-se-me antes à face
A estranha lacuna de (ser) que me fiz.
Sem eleger nada, tudo escolhendo a dedos
Decepados de mãos inúmeras
De incontáveis e desgraçadas proles.

Valéria Lopes

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