domingo, 29 de maio de 2011

Escravidão

 
Quando transpuseres a soleira
Da minha porta
E avançardes passos adentro
E já puderes contemplar de perto
O piano, os assentos e aposentos
Não mais serás um homem livre
Serás servo, escravo e capacho
E inútil há de ser alforriar-te
Já teu amo será teu deus
E decerto quando puseres mesa
Não haverás de saciar-te inteiro
Dar-se-á o caso de apoquentar-te
E tirarás de teu senhor as alparcas
E lhe trará os almudes de vinho
E vestirás sua nudez
E hás de tomar-lhe as mãos ao passeio
Então teu preço nem hás de saber
E servirás eternamente
Até que tornes a transpor, num ataúde
A soleira maldita de teu amo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Batalha

Sou aquela
Cujo coração foi dilacerado
Pela ínfima e cruel vida
E o peito
Carcomido por um verme imortal
Numa pérfida batalha
Apocalíptica...

Fui uma vela
Assoprada na escuridão
Fui o sangue que correu um dia
Pela estria do cácere
E asas tomei da solidão
Para a eternidade e a morte...

Ainda que seja para a morte
Voei, voei...
Sem que saltasse de lugar nenhum...