quinta-feira, 28 de abril de 2011

Paraíso


No Paraíso do inferno morno
As banhas moles se platifam
Com o Zum Zum Zum ardido
Dos xingos desgraçados de mães

O filho da puta velha
O viado de cu sem dono
O bêbado de terça a tarde
O catarrento de fuça larga
Se estremunham todos num só fedor
Numa (des)harmonia silábico-fonética

A comida requentada de ontem
Vai descendo (quando tem) goela'baixo
Pra encher os buchos d'uns
Sem fundo ou gosto algum

As feridas melequentas dos pivetes
Cachorros lambem, deliciosamente
Depois do cio das cachorras vizinhas.

Ah, e dizem que seu Dorogildo é marrento
(Mal sabem que come as quengas da Lia)
O sol escalda a lama aguacenta
Das frieiras entre os dedões dos pés
As moscas borbulham na podridão
Do esgoto correndo no asfalto

Enquanto isso a negra ali
Vem com seus grandes dedos largos
E unhas vinho há mês mal feitas
De cima do seu tamanco bicolor
Ostenta dois peitos balofos apertados
Pulando de um apertado sutiã
Que foi púrpura um dia
Nos seios da patroa siliconada da tiazona

A modorrenta vida do cão
Estirado sobre o poço seco
Da casa morrinhenta de janela amarela
Parece do ‘bão’ e do ‘mió’.
Sem cria choramingando fome
Nem ‘hômi’ pra lhe descer o braço
Ou foder as enteadas púberes.

Ainda dizem que eu sou o poder...

sábado, 23 de abril de 2011

Lacuna

Raros lampejos os de amor que me acometem.
São quase orgásticos!
Me roubam o estado primitivo indiferente
Arquitetam-me pra vida,
Insossa e apetitosa que ela é.
E delatam-me impreenchida.

A chita verde que me indumenta
Torna-me bela e coitada.
Me veste a nudez desesperadora e mortífera de ser!
Refém, servil produto de mim mesma!

Macios, meus gritos se dissipam um dia
Mas esfregam-se-me antes à face
A estranha lacuna de (ser) que me fiz.
Sem eleger nada, tudo escolhendo a dedos
Decepados de mãos inúmeras
De incontáveis e desgraçadas proles.

Valéria Lopes

Valéria

Vermelho, vinho
Violáceo
Via-láctea

Vaidade, vício, vontade.
Vitoriano verme.
Véus violados; vida.

Vinco
Veia
Vontade
Voraz

Volúpia vívida
Viração.
Vim ver!

Virgem velada
Vintage.
Vitelo

Virtude vã,
Vertida.
Vigor!

Veto,
Volto
Vulto!

Vinde!
Vade!
Vadia

Vela,
Velório verbal
Vernáculo vital
Vínculo.

Vis viscaris volátil
Vendai-vos?
Vídeis

Voz, valei vossa verdade.
Vencida, vítima,
Vitoriosa! Vórtice,
Vértice

Valéria

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A uma amiga que cresceu


E houve um dia perfeito
Em que o sol brilhou diferente.
Quando ainda desabrochavas flor:
No verdor e exuberância da gênese,
Necessitada de cuidados constantes.

Contudo, as felicitações a cada ano,
Amassaram tuas pétalas viçosas.
E cada novo abraço dos teus
Sacudiu teu pólen fecundo.
Fê-lo cair por terra.

Brotou
Arraigou-se
Cresceu
Floresceu
Frutificou

És agora árvore frondosa.
De frutos abundantes e doces.
De raízes profundas e densas.
Alvitre de cada dia que se foi.
E serviçal do alegre viver.


Valéria Lopes
Anápolis, 12 de janeiro de 2009.