Quando tem vento as árvores são poesia
Quando não tem são o próprio poema.
E de um poema que eu diria?
Um poema é capaz de me embriagar,
Mas purifica-me quando com vinho,
Eu me embriago de Baudelaire.
Aliás, de poesia!
Valéria Lopes
De toda voz que não se diz. De toda dor que não se sente. E de todo amor que não se ama!
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Pantufa é uma palavra feia
Como se fugissem na calada da noite
Eu nem percebi quando, uma a uma,
Pé ante pé, elas se foram de pantufas.
Amarelas! Eram amarelas e fofas.
E se foram sem que me desse conta.
E agora parece saudade o que tenho,
Mas os sintomas são de febre.
E até mesmo me ardem os olhos.
Tanto tédio que não há remédio.
Fosse outrora eu me entristeceria
Mas agora nem isso...
Sabe, quando impassível, incólume
E ingrato são palavras que combinam com você?
É porque as demais se foram!
E essas já implicam em outras:
Insosso, incerto e vazio...
De nada e de dor passo a viver.
Mas não dói. Se doesse ao menos!
E não quero lembrar-me, mas
Não me esqueço: Inerte
Tenho estado inerte com a cara no muro.
Foi por isso que não vi fugirem
As pantufas amarelas!
E até minha pena eu deixei cair.
Foi seu primeiro tombo!
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Transeunte
Quando estive ausente
É porque estive morta
Então fui apenas a transeunte
Passando por uma porta.
Na natureza ainda bem,
A vida apenas se transforma
Então eu revivi sob outra forma.
E cá estou eu, a mesma também.
Se fiz falta, ora essa!
Nenhuma!
Passei depressa!
Era uma penumbra!
terça-feira, 5 de junho de 2012
Especificações
Tantos parâmetros e especificações
Me desespecificaram.
As bactérias importam mais que eu
E outros menos ainda.
E de que adianta me curarem?
Se me adoecem também?
Bestial!
E tem mais...
Mas censuram-me
E se descobrem...
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Cálice
Embriago-me do odor festivo
E a gota massacrada na base da taça
Lágrima dos olhos meus
Lágrima dos olhos meus
Deixa verter em mim o amor
Entrego-se-me a alma ao corpo
E beijo lábios carnosos
De sabor elegante e trêmulo
E ainda eu tomo o primeiro gole
Enquanto resta o cristal amolecido
Do vermelho sugado da gota final
O cálice me é um primor
Prezo-o pelo fascínio militar
Que se ergue dele, esplêndido
E a pena, que pena!?!
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Primavera
Hoje eu sou primavera.
Mas eu também já fui cinderela.
Meus espinhos brotaram ainda hoje.
Bem cedo com o andejo desejo.
Se viçosas pétalas e flores
Imponentes me fazem ainda.
Ex-cravo lhe faço também.
Se destoas do canto da ave.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Malabares
Digas-me porque dizes “Do amoroso esquecimento”
Algo de outrora amado te vai desvanecendo agora?
Ou agora és tu que escutas a mim, dizendo assim?
Porque do que escreves me convém sempre.
E se tão apaixonado quanto sou és pela palavra
Dela viveria invariavelmente, e feliz, acrescento.
Mas que dela não me viesse nunca meu pão.
Senão de nobre a pobre iria em segundo.
Que (só) escrevo de alma e encanto. Malabarismo!
Arte! É meu invento, e com as palavras danço.
Quando me julgo entendida deveras é que não fui.
E o que proferi parece despencar das mãos do leitor.
Depois afina-se novamente, sem cordas, sem palheta.
Só com dor, ou contentamento ou exame.
Porque a palavra tem dessas coisas de se fazer dúbia.
Equívoca, imprecisa e multifacetada. Burlesca!
Hás de me prestigiar pela palavra arte-feita que fiz?
Porque só tu, meu bem, não podes faltar a celebrar-me.
Malabares, há de ser o título (do poema de nossas palavras).
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